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terça-feira, 1 de julho de 2008

Ciclismo pode ajudar a recuperar dependentes químicos

Os 18 quilômetros da orla da Lagoa da Pampulha são percorridos com entusiasmo e velocidade nas noites de segunda e quinta-feira e nas manhãs de sábado

Esportista aposta na sensação de liberdade oferecida pelo ciclismo como instrumento de apoio na recuperação
Bianca Melo - Estado de Minas -Sábado 28 de junho de 2008

Um dos meios de transporte mais simples, basicamente duas rodas, um cano de ferro e um guidom, pode ser usado no tratamento de dependentes de drogas. Quem garante é o ciclista Rogério Pacheco, de 36 anos, bicampeão brasileiro do Desafio 24 horas e um dos principais ciclistas do país. Todos as noites, depois das 19h, Pacheco está a postos em frente à igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte, esperando os companheiros que vão circular com ele pelos 18 quilômetros da Lagoa da Pampulha. Por lá, explica, aparecem obesos, moradores da região, adeptos de velocidade e jovens, geralmente mais calados, que tentam se livrar do vício. “Mantemos contato com uma instituição que trata dependentes e tem a história também de um ir falando para o outro.” A metodologia é pedalar com orientações e, de preferência, acompanhado por mais pessoas. “É porque a bicicleta dá aquela sensação de liberdade e leva a gente a ir se desafiando para chegar cada vez mais longe”, justifica. Seu próximo projeto é dar orientações e aulas sobre bicicletas para internos de casas onde ficam dependentes químicos. “Já tenho tudo na cabeça e estou correndo atrás de parcerias”, diz. Ele mesmo não foi dependente, mas se animou com histórias que acompanhou. “Incrível como algumas pessoas começam a levar a sério e passam a ter prazer em andar de bicicleta, mudando de hábitos.” A própria relação de Pacheco com a bicicleta se explica pelo prazer de pedalar. Diariamente, o ciclista sai de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, por volta das 7h e pega mais de 25 quilômetros rumo a BH em seu meio de transporte preferido. Até 9h, o tempo é para treinamentos e, na seqüência, começa o expediente na loja de bicicletas que ele mantém com um irmão. De lá, ele só sai às 19h. As noites de segunda a quinta e as manhãs de sábado são para os passeios com as turmas ao redor da lagoa. Saem em grupos, chamados por eles de pelotões. O tamanho dos grupos varia de acordo com o clima e com o humor dos ciclistas. Segunda e quarta especialmente são os dias em que a velocidade é menor porque a maioria dos ciclistas é de amadores. “É necessária apenas uma bicicleta, pode ser simples, mas precisa ser adequada para o peso e a estatura da pessoa”, ensina. Não foi fácil se dedicar integralmente à bicicleta, como ele faz hoje. Na adolescência e juventude, aprendeu a fazer comida japonesa e trabalhou por muito tempo em Belo Horizonte em restaurantes e eventos. Não havia moleza na casa de sete irmãos em Justinópolis, a mesma em que ele vive hoje. “A gente tinha que trabalhar para ajudar em casa.” Mas foi a opção de ir de bicicleta da sua casa para a capital para economizar o troquinho da passagem que mais tarde lhe deu ânimo para participar de disputas. Rogério começou a competir há 11 anos e, conta, nunca teve patrocínio. Neste ano, foi um dos quatro brasileiros convidados a participar do Mundial de Ciclismo na Suíça, no mês que vem, mas não conseguiu dinheiro para financiar os gastos e desistiu. Seria a primeira competição fora do país. Sua esperança agora é a Race across american (Corrida pela América), prova de 5 mil quilômetros, que será disputada nos Estados Unidos, em junho de 2009, com atletas de todo o mundo. “Pelas contas que fiz, acho que não gasto menos de R$ 60 mil”, diz o ciclista, aproveitando para divulgar aos empresáriosa existência da lei de incentivo ao esporte. Segundo ele, será preciso contratar fisioterapeuta, nutricionista e suporte. Apesar de vencer disputas de nível internacional, ele não teve sucesso em seu pedido ao Ministério dos Esportes de receber a bolsa-atleta. OpçãoNa quinta-feira, quando conversou com o Estado de Minas, ele já tinha passagem comprada para Uberlândia, onde disputaria prova de três dias. Ele desmonta a bicicleta e a leva em uma caixa, maior do que a mala que costuma acompanhá-lo. Com exceção das viagens de longa distância, ele faz todos os deslocamentos de bicicleta. “É um carro a menos na rua”, diz. Ele garante que, se o ciclista respeitar as regras de trânsito e souber sinalizar, é possível circular sem problemas na capital. “Claro que é preciso muita atenção porque alguns motoristas ainda encaram o ciclista como um intruso na rua e têm mania de espremer a gente”, admite. Ele mesmo levou um ligeiro tombo ao frear assustado com o movimento de um carro que não deu a ele a preferência quando seguia para a igrejinha da Pampulha, local da entrevista. “Isto é raro porque eu conheço muito bem a lagoa, foi azar”, brinca o rapaz, que é recordista na área com 15 voltas na orla em 11 horas sem parar.

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